22 fevereiro 2014

VAI. CORRE.



"QUEIMADA" de: Raquel Martins


VAI.
CORRE.
CONTEMPLA VÁRIAMENTE AS ESTRELAS.
VERÁS COMO A LUA AS ENVOLVE.

NO LAGO DA NOITE
OS DEUSES SÃO MAIS FEROZES

Maria Azenha
[terceira folha in: De Amor Ardem os Bosques]



13 fevereiro 2014

QUILÓMETRO DEZASSEIS



Duy Huynh


[...]
à procura, procura do vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr atrás desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz de expulsar o sol da minha pele, de
vencê-lo mais uma vez e sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal.

José Luís Peixoto
in: Cemitério de Pianos






ATÉ BREVE






08 fevereiro 2014

COM JOB, SOB O CÉU DE CALAR ALTO



imagem da net

Como um Deus incompreensível
confundido pela própria argumentação
perguntando: «onde é que eu ia?»

Como uma pergunta 
a que só é possível responder
com novas perguntas.

Como vozes ao longe discutindo:
«alguma vez deste ordens à manhã,
ou indicaste à aurora o seu lugar?»

Como um filme
em que tudo acontecesse
na escuridão do espectador.

Como o clarão da noite única
e vazia abraçando pela cintura
a jovem luz do dia.

Manuel António de Pina