09 março 2015

PAISAGEM




passavam pelo ar aves repentinas,
o cheiro da terra era fundo e amargo,
e ao longe as cavalgadas do mar largo
sacudiam na areia as suas crinas.

era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
era a carne das árvores elástica e dura,
eram as gotas de sangue da resina
e as folhas em que a luz se descombina.

eram os caminhos num ir lento,
eram as mãos profundas do vento
era o livre e luminoso chamamento
da asa dos espaços fugitiva.

eram os pinheirais onde o céu poisa,
era o peso e era a cor de cada coisa,
a sua quietude, secretamente viva,
e a sua exalação afirmativa.

era a verdade e a força do mar largo,
cuja voz, quando se quebra, sobe,
era o regresso sem fim e a claridade
das praias onde a direito o vento corre.

de: Sophia de Mello Breyner Andresen 
em: Obra Poética I







4 comentários:

  1. Nem sei que te diga! olha, fiquei por aqui...lendo...ouvindo o piano...que bom!
    Bjs

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  2. Olá Vento! Passando para te cumprimentar e apreciar este belo poema da Sophia de Mello Breyner Andresen, fruta das tuas acertadas escolhas.

    Abraços,

    Furtado.

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