(...) Tudo está feito, o que
tinhas a dizer já o disseste, os que dialogavam contigo para estarem de acordo
ou te insultarem foram recolhendo ao silêncio definitivo. É a hora de te ires
calando também, recolheres à aposentação de falares e de ouvires. Porque
nenhuma palavra é já para ti e assim nenhuma tua é para os outros. Mas a tua
língua move-se ainda, entre ela e a palavra, mesmo que seja só um nome, há uma
ligação que nada pode cortar. Fala para dentro. Chama para dentro. E poderás
circular entre os homens sem que te metam num manicómio.
Lentamente, silencioso, fui-me colando todo a mim mesmo, até ao mais intimo de mim.
Incha-me o crânio, devagar, um vapor quente e sanguíneo.
Para um centro imprevisível, em giros rápidos de aço,
uma fina teia radia-me das unhas,
das mãos e dos pés.
Voga agora, na água límpida da memória,
uma imagem branca e dormente.
Depois esvai-se.
Depois regressa.
Depois desaparece definitivamente, mas deixa,
ó Deus, deixa uma presença vivíssima,
vivíssima,
vivíssima,
Como a chaga que nos fica de um ferro em brasa.
bruscamente, porém, tudo em mim rebrilha incandescente.
Uma estrídula gritaria levanta-se-me no cérebro,
um guincho agudo fura-me a cabeça de um ouvido ao outro,
e um murro surdo, absoluto, abate-me finalmente.
Dobro-me sobre mim, rendido, e ali me deixo ficar,
longamente esquecido da vida, de tudo...
QUE ACONTECEU?!...
(...)
de: Vergílio Ferreira
um espaço onde a Poesia refresca o ar (im)puro de quem o visita que se delicia com o verde da Natureza sentindo em cada folha palavras de Vergílio Ferreira, Florbela Espanca, José Luis Peixoto... etc.
ResponderEliminarobrigado pela agradável partilha.
a...té
benvindo ponto e vírgula
Eliminargrata pelo carinho
volta sempre
beijo
O Virgílio Ferreira escrevia comó carago...
ResponderEliminarBeijos, querida amiga.