Abandona os gestos desnecessários, abandona
o peso e a forma do corpo, abandona o chão.
Tens altura suficiente para entrar. Podes
sentar-te à frente e podes levantar os braços nas
descidas. Subirás devagar, aproveita para ver
a paisagem. Descerás de repente, num instante de
onomatopeias: zut, vrrrum. Grita. Se quiseres,
podes gritar. O vento gritará ao teu lado.
Tens o cinto de segurança posto, já não podes
voltar atrás, já não podes abandonar o ritmo
a que bate o teu coração, o teu coração, o teu
coração. Respira, a vida é feita de estar vivo.
Não vás de olhos fechados, abre os olhos
e respira, repara neste momento da tua vida:
estás numa montanha-russa, mas nem estás
numa montanha, nem estás na Russia.
José Luís Peixoto
[publicado na revista "Volta ao Mundo" em Março de 2012]