25 abril 2013

QUEM AMA A LIBERDADE...


Cravo de Abril
[imagem da net]

Quem ama a liberdade conhece que é idêntica
a verdade e a não-verdade o ser e o vazio
e por isso na sua celebração a metáfora expande-se
na liberdade de ser a ténue sabedoria
desse momento e só desse momento em que o arco cresce
Há então que procurar a chuva dessa nuvem
ou desdizê-la não para o nosso olhar
mas para um outro rosto de areia que cresce no vazio
e poderá ser de pedra ou de ouro ou só de uma penugem
O poema é o encontro destas duas faces
de nenhuma substância quando no vazio do céu
os anjos se diluem com as mãos despojadas

António Ramos Rosa
[As espirais do silêncio]






18 abril 2013

DOS PINHAIS






ondulando, os pinhais
quiseram ser o mar.
murmurando, quiseram ser
o vento. mas somente
no meu ouvido eram vento,
nos meus olhos, mar.

e hoje, ali na encosta,
pinhais bordejam
o mar, sustêm o vento.
 
Fiama Hasse Pais Brandão
 
 
 

09 abril 2013

EPISÓDIO MUSICAL




 
ao ouvir as suites inglesas de Bach, a humidade
dos campos envolve-me, com uma névoa de rios
e uma auréola de margens. esta música puxa-me,
pelas suas mãos de som, para o ritmo que o poema
devia encontrar no limite dos teus cabelos; e tu,
contra o portão, nesse contraluz que te incendeia
o vermelho da túnica sobre o fundo branco dos
muros, roubas ao cravo o seu sorriso profano,
plantando nas suas teclas um desejo que o jardim
do teu corpo fará florescer. assim, vens até mim
pelos degraus deste ritmo que Bach inventou,
para descrever não se sabe que dança, movimento
de saias com vento, baloiço vago que se evola
de uma entrega evanescente, num canto de arbusto,
até ao silêncio branco com que o amor se fecha.
 
Nuno Júdice