01 fevereiro 2015

TEORIA DO ENIGMA




há um sentido subjacente ao que escrevo,
a que nenhuma decifração pode restituir
a leitura. não digo que seja secreto, que tenha nascido
de um desejo de ocultar o que é visível, tal
como nenhuma peneira pode esconder o sol. o
que acontece é que ele não se encontra nos dicionários,
não se descobre em listas de sinónimos, e nenhum tradutor
irá descobrir outro vocabulário mais claro
para dizer o que está dito, mesmo que não seja
compreensível para quem procura, na letra,
o que só o espírito conhece. porém não me refiro
à metafísica. a gramática, na sua textura mais simples,
limita-se a transmitir o que é dito para ser assim,
neste movimento mecânico que nos obriga a atribuir
uma significação imediata às palavras. Depois
há uma outra música, que nasce daquilo que, para uns,
se chama a sugestão, e outros interpretam como
o sopro divino. nem uma nem o outro me interessam. o
sentido és tu, na perfeição absoluta com que o som e a imagem
se juntam, para que nada os separe. podem abrir
os tratados de interpretação; ouvir os sábios; discutir
teorias. esta verdade é minha; e quando te encontro,
sob o sentido do que digo, todo o poema
está explicado.

de: Nuno Júdice





3 comentários:

  1. Como gosto de Nuno Júdice, é óbvio que gostei da escolha!
    Bjs

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  2. Querida amiga

    Há nas palavas que escrevo enigmas a envolvê-las.
    Muito do que amo, encontram-se nelas.
    Muito de quem amo, encontram-se nelas.
    Muito de quem desejaria que me amasse, encontram-se nelas.
    Por isso peço cuidado com os olhos que leem o que escrevo.
    Que tratem com carinho cada palavra.
    Acariciem-nas com seus corações.
    Há muito de amor nas entrelinhas...

    Que ainda haja estrelas em seu coração,
    é o que deseja minha vida para a tua.

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  3. Pois...
    O Nuno Júdice é muito subjectivo e sua poesia é elegante e boa.

    Saudações poéticas!

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