05 setembro 2014

A MÃE QUE CHOVIA



Juntos, trocavam tardes de domingo, descanso, 
beijinhos e coisas mornas de mãe e filho.

Enchiam a barriga de brincadeiragem.
Ele fazia corridas com a mãe,
... brincava às escondidas com ela
e a um jogo secreto que se chamava
"Não tens nada a ver com isso".
[pág.10 e 11]




[...]
Mãe, choves o significado do teu nome sobre a terra,
choves amor que faz nascer plantas-bebés, sorrisos
verdes, que faz crescer saladas e sopas. Mãe, sem ti
não existia a palavra "verdejante". Há tantas palavras
que não existiam sem ti. Mãe, choves palavras sobre o
mundo. As palavras que lanças devagar sobre os campos
enchem os rios e as barragens, dirigem-se ao mar.
Em casa, as pessoas abrem torneiras para encher os copos
com as palavras que choves. É assim que o teu amor
se espalha pelo mundo e, quase sem se notar, o inunda.
Porque tudo aquilo que fazes crescer faz crescer também,
dás vida que dá vida. A mim que sou teu filho, teu filho, 
deste-me toda a vida que tenho e dás-me sempre o teu amor
mais brilhante. Mesmo quando estou onde não podes estar,
mesmo quando estás onde não posso estar, sabemos bem
o tamanho desta certeza que nos une. Eu tenho a certeza
de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe,
choves essa palavra dentro de mim. 
[...]
[pág.59]

de: José Luís Peixoto





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