12 março 2012

METAMORFOSES DA CASA



Ergue-se aérea pedra a pedra 
a casa que só tenho no poema. 

A casa dorme, sonha no vento 
a delícia súbita de ser mastro.
Como estremece um torso delicado, 
assim a casa, assim um barco. 

Uma gaivota passa e outra e outra, 
a casa não resiste: também voa.
Ah, um dia a casa será bosque, 
à sua sombra encontrarei a fonte 
onde um rumor de água é só silêncio. 

de: Eugénio de Andrade





4 comentários: