18 abril 2012

REDENÇÃO


Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

Verbo crepuscular e íntimo alento
Das cousas mudas; psalmo misterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?

Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.

E eu compreendo a vossa língua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!

II

Não choreis, ventos, árvores e mares,
Coro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...

Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
D'esse sonho e essas ânsias afrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...

Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,

Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.

Antero de Quental 





4 comentários:

  1. como me sinto pequenino para comentar Antero de Quental.
    fico-me pelas singelas palavras do quanto adoro essas nobres palavras... as do Antero, a do mar, das árvores, e do vento.



    a...té

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  2. Há muito tempo que não lia o Antero de Quental.
    Obrigado pela partilha.
    Beijos, querida amiga.

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  3. Ah!... foi um pequeno carinho a ele pelo seu aniversário :))
    vocês acham que ele deu por isso? ;)))....

    Um abraço, queridos amigos.

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