03 junho 2012

[...] TANTO, TANTO, TANTO -




[...]
Pois, logo a mim tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera de mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. 
- Para que te servem essa unhas longas? 
- Para te arranhar de morte e para te arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. 
- Para que te serve essa cruel boca de fome? 
- Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor. Já que tenho que te doer eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. 
- Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? 


- Para ficarmos de mãos dadas pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.


Clarice Lispector
em: Os Desastres de Sofia







2 comentários:

  1. Respostas
    1. ... afinal as feras também sabem amar
      e o teu comentário transpira mais ternura que o próprio texto :)

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