02 dezembro 2012

DÁ-ME ALGUMA DA TUA PELE TERRA

 
 

 
 
 dá-me alguma da tua pele terra
tu que não me pedes nada e
me apareces de noite vestida de
nudez pele terra e me abres caminhos
para que te conheça dá-me algum
do silêncio que me dás para que
nele te diga pele terra se de noite
me apareces iluminada de muitos
pássaros a nascer e a voar a
nascer e a voar silêncio pele terra
para que te conheça dá-me o que
dás a todos e nunca deste senão
a mim pele terra tu que me dás
os gestos das minhas mãos
a música das minhas palavras que
me dás pele terra esconde-te
dentro de mim

José Luís Peixoto
 in: "A Criança em Ruínas"
 
 
 
 
 

9 comentários:

  1. Obrigada pelo seu gentil comentário no meu blogue e na "Rosa Solidão".

    Comentar José Luís Peixoto, ao som de um piano tem mais encanto, mas tem muito mais responsabilidade, porque se trata de José Luís Peixoto.

    Pedir à mãe terra, para que nos dê aquilo, que tanto desejamos, será sempre muito mais fácil, do que pedir aos humanos.
    Dela fomos feita, e nela nos transformaremos, mas as palavras ficarão para todo o sempre.

    Tenha uma boa semana.
    Abraço da Luz.

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    1. és pessoa de uma sensibilidade extrema, de extremos...
      gostei de te conhecer, Luz.
      grata pela tua presença.

      abraço

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  2. Tenho uma releção muito estreita com a mãe terra, gosto de a sentir entre os dedos...apeteceu-me ler mais de "A Criança em Ruínas" !
    Bjs

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    1. fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
      com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
      do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
      que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
      os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
      não imaginam: são tão ridiculas as pessoas, tão
      despreziveis: as pessoasa falam e não imaginam: nós
      olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
      sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
      medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
      dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
      ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
      amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
      oceâno que nos queima, um incêndio que nos afoga.

      "uma criança em ruínas"
      de José luís Peixoto

      beijo, Lilá(s)

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  3. adoro sentir a terra nas minhas mãos, seja molhada ou seca mas, alguém com quem preciso conversar... no momento...!!

    não me atrevo a comentar José Luís Peixoto. sou muito "pouco" para tão grandes palavras.

    bj...nho

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    1. eu gosto do cheiro da terra molhada!

      beijinho, Sérgio.

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  4. :)) obrigada, Maria Alice :)
    sou-te grata pelo carinho.
    no teu abraço carinhoso.

    Feliz Natal, também para ti.
    até já ;))

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  5. " Dá-me alguma da tua pele terra, tu que não me pedes nada..."
    Que lindo ! E eu gosto fanto da terra , principalmente quando está molhada!
    E lindo é este Poema e o seu blog também!
    Feliz Natal

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