12 junho 2012

PAISAGEM



Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
  
Sophia de Mello Breyner Andresen





2 comentários:

  1. Magnífica escolha poética.
    Minha querida amiga, tem um bom resto de semana.
    Beijo.

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    1. desculpa ter demorado tanto a chegar para te receber, Barcelli, tu sabes o porquê do impedimento [um súbito apagão nesta janela donde te espreito :)]
      salva-me o poema da imortal Sophia
      sempre me salva, esta mulher fascinante:))

      feliz domingo, querido amigo
      beijo.

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