06 junho 2013

CAL

 
 
  
... ana molhou uma toalha no alguidar e envolveu a mão do fugitivo
onde faltava o dedo médio e o indicador... na sua pele o sangue era mais claro
do que na toalha. na toalha, tinha a côr de um grito de sangue. na pele, era
como se fosse a memória do sangue.
 
... os olhos de ana não tinham idade e, quando reparou que os olhos daquele
homem também não tinham idade, o sangue parou de embeber a toalha.
 

quando chegou março,
nasceram flores nos campos.
debaixo da azinheira nasceu
uma única flor.
                 era uma flor bravia
as raízes dessa flor
atravessavam a terra, eram
longas, e entravam dentro do
corpo do mudo. aquilo que
tinha sido a vida do mudo
entrava por essas raízes
e corria dentro dessa flor.
ninguém sabia, mas o mudo
era essa flor. continuava
mudo. as suas roupas pretas,
apodrecidas debaixo da terra,
eram pétalas brancas. os fios
da sua barba, misturados com
a terra, eram pétalas brancas.
a cadela, sem saber que ele
era uma flor, continuava
perdida pelas ruas da vila.

José Luís Peixoto


 
 

8 comentários:

  1. Espetáculo de postagem com lindo texto e a música Smile com um arranjo formidável de quebra! Bravíssimo! Beijo

    http://www.youtube.com/watch?v=Cz2Vd0HtLDk&feature=share&list=RD02XI0R0Hrow6E

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    1. obrigada, Tossan, pelo presente lindo que me deixaste :)))

      "volare"
      brilhante!

      beijo

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  2. Um texto a condizer com a mestria do autor!
    Beijinho para si!

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    1. :)) bom dia Poeta!

      tenho algumas "desavenças" com o google+ :((
      desatinei com a publicação da imagem... (ñ tinha o formato, ñ se via que era eu, e ñ era realmente eu... rsss), não voltei a tentar :)
      um dia destes insistirei, é que tenho lá vários amigos.

      beijinho também para si :)

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  3. Acreditar é sempre o primeiro passo....
    E o amor será sempre uma escolha
    Morris

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    1. acreditar!!...
      é isso Morris.

      quanto ao amor..., bom, acho que aí não temos realmente escolha
      é ele que nos bate à porta, não adianta procurá-lo...
      e quando bate, já a porta está apenas encostada
      ele entra sem pedir licença
      mesmo quando nos fingimos rogados :)

      beijo, Morris

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  4. Que mais dizer além de que, se sempre verifico que:carregas contigo o poema!!
    Bjs

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    1. hummm...;) eu carrego o poema...?!
      quem dera, Lila(s)!...

      beijos, amiga.

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