11 janeiro 2014

"A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA"



dentro de nós há uma coisa que não tem nome,
essa coisa é o que somos [José Saramago]



Dalí pretendeu expressar a angustia do controle do tempo e da vida. Dizia ele que, sem a ditadura do relógio, os humanos teriam a capacidade de saborear a eternidade, libertando-se dos ditames viciosos que regulam o mundo. Seríamos como os animais, plenos de instinto, desconfiando jamais da existência da própria morte. [...] Dalí diz ter idealizado relógios a derreterem tal e qual o camembert preguiçoso da mesa do almoço. Como se o tempo fosse também ele ductil e macio.

[...]
Dalí: "crês que daqui a três anos te terás esquecido desta imagem?" 
Gala: "é impossivel esquecer mesmo para quem tenha observado uma só vez."

[...] a memória é muito mais importante do que o mito do coração, porque ela é tudo o que somos. Só somos verdadeiramente nós se vistos da janela da memória, é ela que nos define a razão, a emoção, o orgulho ou a culpa. 
[...] a memória é a nossa verdade sem tempo. Sabemos o que é certo ou errado porque essa noção reside algures inculcada dentro de nós. - Com a paixão e o amor é a mesma coisa - é invariavelmente pela recordação que o coração bate mais forte.

[...] nós somos muito do que esquecemos [...] não há vida sem memória.

Daniel Oliveira
in: A Persistência da Memória






6 comentários:

  1. A memória... mas qual? a afectiva? a das imagens e sons? a das experiência de alegria e dor? Somos memória, porém...

    beijo amigo

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    1. [...] não há vida sem memória, mas nós somos o que esquecemos, na medida em que, se nos lembrássemos de tudo, ... odiaríamos agora, com a mesma intensidade, quem nos fez mal há 20 anos. E teríamos uma tremenda incapacidade de desamar [...] a menos que uma dor se sobreponha ao sentimento inicial, o amor permanece, ainda que de forma inactiva. A pessoa nunca me será indiferente se indiferente nunca tiver sido [citação pag. 69]

      Todas as memórias, Daniel.
      e mais:

      "lembro-me de tudo. de tudo com a nitidez deste instante. confundo passado, presente e futuro no mesmo momento. dentro de mim toda a vida se agita num caos de olhos vendados e cada uma das recordações é desperta através dos sentidos, de perguntas ou de uma simples palavra [...] - 1 pag. 11

      é um livro interessantíssimo, a história de alguém que sofre de "hipermenésia"...

      beijo amigo.
      grata por vires.

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  2. Memórias sim
    de preferência as vivas

    Eufrázio Filipe

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    1. "(...) levantei o rosto e olhei-te mais fundo do que julgava conseguir, lembras-te?
      tudo o que disseste já se vislumbrava nos teus olhos (...)"

      bj, Eufrázio

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    2. este meu comentário é também uma citação do supracitado livro
      ver na contracapa do mesmo.

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  3. volto sempre aos meus abrigos,
    neles por vezes sinto alguma inquietação,
    e então volto outra vez.
    aprendi nestes caminhos e pela voz de um amigo:
    - "aos amigos não precisamos de dar satisfações, são amigos, entendem-nos"
    e hoje, volto aqui porque preciso,
    preciso dizer porque comprei este livro e o trouxe aqui, e faço-o com as palavras de Daniel Oliveira, de novo [as primeiras que li]:
    "é um livro com muitas histórias lá dentro, de desenlace surpreendente, que tem por objectivo colocar-nos a pensar sobre a importância da nossa memória e o que seria de nós se não fossemos capazes de esquecer quem nos faltou em alguma altura da nossa vida, quem nos magoou. seriamos capazes de ultrapassar o nosso passado se tudo estivesse ainda presente?"

    Daniel Oliveira [citação]

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