29 julho 2012

..."PLAY IT SAM..."




CASABLANCA

Não era um bar de Kashbah, mas um café
em Leça da Palmeira (pequena vila ao norte
do país), a tua voz aqui me leva lá

O resto: é só mudar na gente aqui
a roupa ocidental para barba e burel,
vislumbrando punhal entre mil panos

O resto: é só virar a cor do espectro
para branco e cinzento - já agora
em lugar daquela mesa, organizar piano (em contraponto)

O resto: é só subir a temperatura
uns vinte graus (ou mais) disfarçar a ternura
como, há cinquenta anos, esses dois

O resto: é inventar em Leça da Palmeira,
no meio de nevoeiro tão imenso,
um olhar tenso a disfarçar-se brando
(um poço de desejo, e ventoinha em avião de espanto)

Nas mesas do café de Leça da Palmeira:
Casablanca voando, e à medida que o tempo
se desfaz imenso: um saxofone brando,

deixar junto do verso a promessa do nada
que não houve, mas se senta ao piano
repete, como em sonho, a mesma melodia

- traduzida em inglês: toca outra vez e outra,
que nem Kashbah aqui, mas bem podia
ser a tua voz (num registo final)

AnaLuísaAmaral









8 comentários:

  1. ...são Azenhas de Santa Cruz (Torres Vedras)
    ................
    Obrigado pela visita...
    Conheço Ana Amaral, mas não este poema..
    Abraço

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    1. também não lembro se já passei em Azenhas de Santa Cruz, Andrade, mas fiquei curiosa, obrigada.
      eu gosto muito, muito mesmo, da poesia de Ana Luísa Amaral, particularmente deste poema, que chama uma certa nostalgia (boa):).
      abraço.

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  2. Respostas
    1. abraço grande, pois claro, Eufrázio.
      é simples e doce a poesia de Ana Luísa.

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  3. Tens a grandeza do dom da poesia, sorte minha que posso apreciar. Beijo
    RS: Não estás enganada não! Acertastes bem no alvo! Você é muito inteligente além de poetisa.

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  4. Olá Vento, maravilhoso poema que não conhecia a poetisa. Tem tanto de belo como de nostálgico. Adorei. Beijos com carinho

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